Designer Vadio

Saiba porque ocorre a banalização do termo design e a desvalorização do profissional criativo

designerEae tudo bele?

Hoje eu estou aqui para falar um pouco sobre um problema na área de Design. Mais especificamente dos segmentos gráficos e web, que são os que atuo. Irei falar um pouco sobre essa banalização, essa vulgarização do Design que ocorre no nosso cotidiano. É impressionante a falta de um consenso a respeito, a falta de preparo dos “profissionais” que atuam como Designers e também a inábil capacidade de várias instituições de formar profissionais capacitados.

Aqui no meu blog eu sempre tento trazer soluções para você Galucho, mas hoje é dia de você refletir esse problema comigo. Bora?

Neste artigo você verá:

Design virou modinha

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O Design surgiu para suprir a nossa necessidade de regular o meio em que vivemos. O Design está presente em nossas vidas desde que nascemos. Nos usufruímos do Design todos os dias, a praticamente todo minuto. Por isso não é raro ouvir alguém falar “Design é projeto”, porque ele tem uma função, não é só estética.

A palavra Design por si só já é bem abrangente. Se olharmos no dicionário acharemos vários significados. Mas também o termo parece ser algo “bonito de se falar”.

 Às vezes quando falo que sou Designer ou Web Designer as pessoas falam:  Hum, que chique! E eu penso:  Chique onde, jovem?)

Por isso qualquer coisa vira Design.  Existem atividades que a fim de criar respeito e/ou essa coisa “chique”, usam o termo Design de forma incoerente.

O cabelereiro agora é hair designer, a boleira agora é cake designer, entre outros…

Não estou desmerecendo essas profissões, pelo contrário e sem demagogia, mas Design é outra coisa, né Galucho!

Isso talvez aconteça porque Design é uma área com várias ramificações: gráfico, web, produto,etc. E creio também que isso ocorra pela falta de entendimento do termo.

Design é uma área que não dá para separar o conhecimento técnico e as relações humanas.  Design trata intrinsecamente das ligações entre o objeto e o homem.

Outro ponto a ser considerado é que Design e Arte são difundidos erroneamente no mesmo nível cultural. Com isso consumir Design e falar Design parecer ser culto.

Consumir Design, ou algo que prometa e ou fale disso, é ser legal, ser cult, ser intelectual. E como todos nós sabemos a gente se comunica pelo nosso poder de compra. Via produtos que consumimos nos comunicamos e participamos em grupos sociais. E todo mundo quer ser “cult”, não é?

Vulgarização da Profissão

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Design só começou a ser visto no Brasil com mais propriedade a partir da década de 80. Hoje vivemos um tempo em que nunca antes na história desse país (ou no mundo) – como diria um ex Presidente aí 😛 – se falou tanto em Design.

As empresas, sejam elas grandes ou pequenas, começaram a perceber o que um bom Design pode produzir: o quanto ele pode ajuda-las a lucrar mais, que ele pode ser um diferencial competitivo de mercado, como é importante ter e zelar por uma boa imagem, o quanto pode ser eficaz, para seus produtos/serviços projetar algo pensando efetivamente no cliente que irá usufrui-lo, etc.

Com esse pensamento ganhando força tudo cresceu:  a demanda por mão de obra por Design, o número de cursos universitários, e também, como para ser “Designer “não é preciso de um registro ou de licença (igual a de médico ou um arquiteto, por exemplo), o número de pessoas que não são Designers, mas que “entende um pouquinho de photoshop”, começando a atuar na área e se auto intitulando “Designer” (e também de  alguns oportunistas) cresceu bastante.

Sendo assim, todo mundo vira “Designer “, “Diretor de arte”, entre outros.
E tudo isso contribui ainda mais para essa lesividade no nosso ramo e essa crise de identidade que vemos.

Sabemos que existem ótimos Designers que nunca pisaram numa universidade, mas quem “pisa” deveria sair melhor preparado. Claro, que em todos os cursos sempre existirão profissionais formados “meio a bocas”, mas parece que a proporção na área de Design é muito maior.  Sabe-se que a formação depende muito do esforço e da vontade do aluno, todavia é de assustar a imperícia das faculdades em formar profissionais com o mínimo de preparo.

E mesmo assim a cada ano o número de “Designers” que são “despejados” no mercado por essas instituições só aumenta.

Outro ponto a ser levantado é a dispersão e inabilidade existente entre os alunos que também é algo realmente impressionante.

A maioria faz por fazer, estão lá perdidos… Grande parte nem chegará atuar na área e se atuar será “daquele jeito” ou aprendendo o certo na raça, depois de anos,  ou sendo um eterno “micreiro diplomado”.

Não há problema em ser micreiro quando se está iniciando (acho que quase todos já foram um dia, e eu já expliquei isso em outros artigos).

O problema é ser um eterno micreiro… Ou um micreiro graduado.

Designer é café com leite

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O Design é algo essencial em um processo de desenvolvimento de um produto ou serviço que zela pela qualidade funcional e estética.

Mesmo as empresas tendo essa consciência sobre a importância do Design ele ainda é tido (exceto as empresas de comunicação, claro)  como algo prescindível. Existe uma certa “marginalização do Design”. É como se o que fazemos qualquer um possa fazer, a qualquer hora, quando bem entender.  E isso ocorre porque elas (empresas) sabem que Design tem  importância, mas não sabem o que é Design. A maioria pensa que é somente “dar um visual novo há algo”, deixar algo “bonitinho”.

Isso em parte deve-se também a grande falta de preparo da maioria (como já citei acima) que vulgarizam a profissão, aceitando e submetendo a coisas e remunerações esdrúxulos.

Por isso o Designer vive sobre olhares céticos das empresas. Nossa formação e atuação vive sobre constante questionamentos. A falta de regulamentação da profissão e integração dos Designers é outro item que pesa para que aconteça essa marginalização.

Por essas e outras não é raro o Designer se sentir o “patinho feio da empresa”.

Nem tudo é ruim… Ainda não é o fim do mundo

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Sabemos que todo novo conceito leva um certo tempo para ser assimilado. No Brasil, o termo Design é bastante novo e se juntarmos isso com a banalização e uso indiscriminado do termo, veremos os motivos da existência dessa confusão em torno da área de Design e do profissional de Design.

A má formação, a vulgarização, e a falta de regulamentação da profissão produzem profissionais péssimos, desvalorização da profissão e contribuem para esse pensamento errado das pessoas.

Mas nem é tudo ruim, calma Galucho.  😛

Dá para viver de Design e ser valorizado. Trabalhar com Design é bastante gratificante e legal. É um ramo onde você pode usar a criatividade para melhorar a vida das pessoas, melhorar como elas interagem com o meio em que vivem ou deixar algo mais agradável para seus olhos.

E isso é sensacional!

Claro que falta regulamentação, integração e uma melhor difusão na sociedade sobre o que é Design.

Mas mesmo assim ainda pode ser maravilhoso trabalhar com Design e ver o resultado final funcionando. 🙂

E você o que acha sobre a área? Já atua? Discorda de mim? Você pode deixar seu comentário abaixo!!

Forte abraço.

Até mais.

David Arty

Olá. Sou David Arty, fundador do blog Chief of Design.
Sou natural de São Paulo, Brasil. Trabalho com design, principalmente com design para web, desde 2009. Procuro transformar ideias loucas e complexas em peças simples, atrativas e funcionais.

12 Replies to “Designer Vadio”

  1. Bacana, tem um livro muito bom que fala justamente sobre isso, “Design – John Heskett”.

    O erro, para mim, já começa na confusão que as pessoas fazem com a palavra Design, mas, o pior é o grande número de profissionais formados que ainda não entendem o que realmente faz um designer.

    Talvez a culpa desse desentendimento esteja dividida entre as instituições de ensino, alunos e a própria cultura brasileira ou o atraso que a gente tem, em comparação ao resto do mundo.

    • Olá André.

      Eu conheço o livro. Não cheguei a ler todo o livro, mas esse capítulo eu li.

      Com certeza ele me serviu, de alguma maneira, como referência . 🙂

      E essa questão da confusão feita com a palavra Design realmente incomoda.

      Acho que grande parte seja creditado a isso mesmo que você citou: instituições de ensino, cultura brasileira e alunos.

      Outro ponto que também corrobora para isso acontecer é falta de regulamentação da profissão.

      Fazer o que :/

      Mas vamos seguindo em frente, né? hehe

      Forte abraço

  2. Acredito que como vc citou, um dos maiores problemas são os micreiros diplomados, que mancham toda uma categoria. Se as universidades formassem profissionais qualificados, não haveria o menor sentido em procurar “pelo sobrinho”, pois seria como pedir para um “dentista fazer uma cirurgia em ortopédica, afinal, é tudo osso!”, sabe?

    Mas por conta desse déficit acadêmico que forma profissionais despreparados, somos obrigados a competir com trabalhos com prazos e preços impossíveis, quando se pode ter um trabalho de qualidade pelo preço justo.

    • Olá Carol!

      Concordo com você 🙂

      Existem inúmeros fatores que contribuem para esse cenário atual,entretanto a falta de regulamentação da profissão e o desleixo de muitas universidades para com os cursos de Design contribuem demais com essa situação.

      Com isso, cada vez mais nos deparamos com esses “sobrinhos” e “micreiros diplomados”.

      Infelizmente essa é a realidade :/

      Até mais, Carol!

      Abrs.

  3. A desregulamentação da profissão, como você mesmo disse, contribui para isso. Tem o braço da formação, mas também tem o braço da organização daqueles que já estão no mercado de trabalho. E a regulamentação só chegará quando os trabalhadores da área buscarem lutar juntos por ela. Nenhuma empresa vai abrir espaço para a regulamentar a profissão de Designer, pois ela demandará jornada de trabalho definida, piso salarial, entre outros benefícios (que quase nenhuma empresa está disposta a fornecer). Essa luta é feita através dos instrumentos (que muitos acham fora de moda ou coisa de “comunista”) como sindicatos, associações. É através deles que os trabalhadores buscam um consenso em torno de uma pauta comum (aí no caso a regulamentação) e buscam as formas de consegui-la, isso perpassa inclusive com articulação com o congresso nacional.
    É uma luta árdua, mas ela tem que ser iniciada.

  4. Olá. Esse assunto já girou bastante na minha cabeça ao longo dos 28 anos de profissão. Sou do tempo da prancheta e de quando nem se usava o termo designer, mas artista gráfico e talvez algum outro que me foge agora.

    Regulamentação de qualquer profissão é uma coisa indiscutível. Até as moças da profissão socialmente mais desprezada brigam por isso. Formação também é naturalmente necessária para distinguir quem é embasado de quem é meramente empírico. Mas de uns anos pra cá, entendo que a raiz de tudo está antes disso.

    Acredito que o maior problema que enfrentamos chama-se percepção. As pessoas em sua esmagadora maioria ─ sejam elas clientes, fornecedores, consumidores e, claro, muitos pseudo-designers ─ não distinguem, no sentido simbólico, uma letra com serifa de outra sem. Não conseguem perceber conscientemente que determinada cor na parede está atrapalhando o negócio dela. Não entendem que, se você “destacar o título, a imagem, o texto e o telefone”, está destacando coisa nenhuma. Vou além do design e pego exemplos de marketing… É só ver o conteúdo (ou melhor, a falta dele) nas campanhas eleitorais. É só ver como empresas abrem e fecham porque não incluem em seu planejamento estratégico e financeiro uma coisa chamada divulgação. E por aí vai.

    Minha conclusão então é que, a exemplo do que ocorre em outros setores da sociedade, esbarramos na questão da Educação. Ela está ausente das famílias, está ruim nas escolas ─ e isso afeta o Design, sim. O mundo empresarial ainda não é ensinado devidamente, não é preparado para entender os valores intangíveis com que nós trabalhamos. Eles ainda acham que a marca da empresa com qualquer “desenhinho” tá bom, que anunciar no jogo de futebol é bom porque “é baratinho”.

    Uns quinze anos atrás, eu dizia com veemência aos colegas que é papel do designer ser didático, mostrar como a coisa funciona etc etc. Eu até continuo tentando, mas hoje só faço isso com quem percebo que tem um mínimo de percepção pra entender. Porque olho pro mercado e vejo meia dúzia de indústrias de refrigerantes, outras três de sanduíches, mais um tantinho ali de comércio de roupas, que entre centenas ou milhares em seus ramos são as que fazem diferença, são as que têm percepção.

    • Olá, Elias.

      você citou outro ponto importante: a educação.

      Realmente isso acaba afetando o Design.

      Se empresas, cliente,s etc, tivessem uma percepção real e melhor sobre Design e sobre o nosso segmento, a realidade seria outra.

      Esse tópico que você citou, creio eu, ainda vai demorar muito para melhorar.
      Fazer o que :/

      Forte abraço.

  5. Pingback: Design, Arte e Futebol - Chief of Design

  6. Sou recém formado em publicidade, até então trabalho muito com design, desde o inicio da graduação, por ser uma cidade pequena, parece que confundem muito publicitário com designers. Não entendem nem oque é publicidade, acho que muito menos design. Até um professor, varias vezes dentro da sala de aula, falando do designer gráfico especificamente como se fosse só um cara que conhece alguns programas. tentei me defender, mas mesmo assim voltava a fazer comentários em algumas aulas.

    • Olá Luis Fernando.

      Infelizmente isso não acontece só em cidade pequena.

      Eu moro em São Paulo, capital.

      Recentemente fui numa concessionária… Aí o cara da concessionária perguntou qual era a minha profissão.

      Aí eu falei que era Designer. Só que ele não entendeu. Eu repeti. Ele ainda assim não entendeu o que era. (note ele ouviu o que disse, mas achou que isso não era profissão).

      Até que então, o meu cunhado que é advogado falou ” coloca aí operador de computador”. E feito. Resolveu o problema.

      Seria cômico senão fosse trágico kkkkkk

      Acho que meu cunhado deve ter trocado ideias com o seu professor 😛

      E essa questão de publicidade e design realmente confunde bastante, porque toda campanha impressa ou digital precisa de um designer para executar a arte. E muitas vezes, até pela falta da regulamentação, basta somente se formar como Publicitário que você consegue emprego como Designer.Já vi anúncios assim.

      As pessoas realmente não tem obrigação de saber o que é etc; eu sei!
      Mas a gente pode ajudar nessa questão primeiro se apresentando com postura profissional e depois mostrando como que é.

      Já foi bem pior. Acredito que apesar de tudo estamos evoluindo nisso!

      Abraço!

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