Um Elefante na sala dos Criadores de Conteúdo: ética, empatia e responsabilidades

Por que os influenciadores digitais precisam refletir sobre suas responsabilidades ao produzir conteúdos?

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imagem gerada por IA da ferramenta Midjourney

Eae, tudo bele? David Arty aqui.

Eu crio conteúdos (e sempre começando com o jargão do primeiro parágrafo, rsrs) desde 2014. E eu comecei justamente por aqui: escrevendo artigos. Essa foi sempre a base do Chief of Design. Com o tempo foi natural começar a fazer conteúdos em vídeos para Youtube, para Facebook e hoje em dia mais conteúdos para TIktok e Instagram. Além de outras redes sociais que até tenho conta, mas atuamos menos, é verdade, como Pinterest, Twitter e Linkedin.

Ao longo desse tempo eu já fiz praticamente todo tipo de conteúdo que é possível ser feito, tanto para o digital como presencial. Eu já fiz: artigo, vídeo, imagens, carrosséis, podcasts, palestras, aulas, eventos, workshops, meetups, conteúdo EAD, eBook, infográfico e com certeza devem ter mais coisas que nem lembro de cabeça.

Também já passei por muitas ondas e tendências: já testei várias formas de conteúdos, vi redes sociais bombarem e desaparecerem. Vi vários influenciadores digitais que se achavam grandes simplesmente perderem a relevância e praticamente sumirem. Também vi gente que começou a criar conteúdo e depois desistiu, outros serem cancelados, novos criadores surgirem e ganharem espaço, alguns enriquecer e por aí vai.

Por isso, sem falsa modéstia, o que eu posso dizer que eu tenho cancha pra dizer o que vou manifestar nesse artigo. Nós precisamos falar sobre o elefante branco que é a ética, a responsabilidade e compromisso social que carregamos conosco, influencers e produtores de conteúdo.

Isso não é de hoje e nunca vai ter fim, infelizmente.

A primeira coisa que precisamos ter consciência é que esse tema (o elefante da ética e responsabilidade) já existia anos atrás quando comecei e vai continuar existindo no futuro também. Não tem como controlar! E antes de continuar, deixo claro que a ideia deste artigo não é pautar ou censurar alguém, pelo contrário. Trata-se de um manifesto para a conscientização dos produtores de conteúdo. É o que eu acredito e está tudo bem se você não pensa igual!

Apesar de eu criar conteúdo sobre design, acredito que o conteúdo aqui possa servir para qualquer produtor de conteúdo.

Nós influencers, ou influenciadores digitais, alcançamos grande quantidade de seguidores nas redes sociais, a gente não tem noção da magnitude disso, e somos capazes de influenciar o comportamento e as escolhas dos nossos seguidores.

Muitas vezes nós assumimos um papel que nem era para ser nosso: viramos tutores, professores e mentores de muitas pessoas. Esse papel que normalmente era assumido por um chefe, um colega de profissão mais velho ou até mesmo um professor, hoje em dia é concebido para um estranho que tem voz na internet. Por isso que temos grande responsabilidade em relação ao conteúdo que produzimos e ao impacto que isso pode ter na vida das pessoas.

Sei que não fomos preparados para isso e na verdade muitos de nós (influenciadores digitais) não tivemos o mínimo de formação social e academia para ter uma boa estrutura para lidar com todo essa potência de comunicação que lidamos, mas isso não nos exime das responsabilidades.

Como produtores de conteúdo, no que tange aqueles que criam conteúdos educacionais, estamos conversando diretamente com as angustias, dores, expectativas e esperanças dessas pessoas. Mudar de profissão, se formar em um curso, mudar de país: estamos lidando com os sonhos de muita gente.

O fato é que sempre vai aparecer alguém que vai fazer de tudo pelo dinheiro e pouco vai ligar para os efeitos colaterais que suas ações podem ter, mas quanto mais falarmos sobre o tema, com certeza mais pessoas vão ganhando consciência.

Integridade e transparência deveria ser praxe, mas não é…

imagem gerada por IA da ferramenta Midjourney

“Com grande poderes, vem grandes responsabilidades”. Entendo que nós criadores de conteúdo temos que garantir que o conteúdo que produzimos seja justo, preciso e respeitoso para todo o nosso públicos envolvido. O impacto que temos na vida das pessoas não é brincadeira. Lidamos com sonhos de muita gente. Claro que me refiro aqui a principalmente aos criadores de conteúdo educacional, que ensinam algo, que lidam com informações; pois se o seu conteúdo é mais raso, mais galhofeiro, essa responsabilidade com certeza diminui significativamente, mas da mesma forma ainda entendo que é preciso de agir com integridade e transparência, não apenas em relação ao conteúdo que produzem, mas também em relação às práticas de monetização e ao relacionamento com o público.

Então tomei a liberdade pra criar algumas considerações sobre éticas e responsabilidades dos criadores de conteúdo:

  1. Transparência: Os criadores de conteúdo devem ser transparentes em relação às suas intenções, motivos e fontes de financiamento. Isso significa deixar claro quando somos pagos para promover produtos ou serviços e evitar qualquer conflito de interesse.
  2. Autenticidade: Podemos criar coisas novas a partir de algo já existente. Por mais que o seu conteúdo seja de reacts (reações a outros conteúdos) e memes não se deve perde a sua singularidade de comunicação e de conteúdo.
  3. Coerência: Os influencers devem ser coerentes em relação ao conteúdo que produzem. Eles devem manter a consistência em sua mensagem e evitar promover produtos ou serviços que não estejam em linha com seus valores ou interesses pessoais.
  4. Precisão e veracidade: Os criadores de conteúdo devem se esforçar para produzir ao máximo conteúdos precisos e verdadeiro, passando informações baseada em fontes confiáveis e precisamos nos precaver para não informações enganosas, tendenciosas ou falsas.
  5. Respeito e inclusão: Os criadores de conteúdo devem respeitar a diversidade e a inclusão, evitando conteúdo ofensivo ou discriminatório que possa ferir ou prejudicar a qualquer tipo de pessoa ou grupo.
  6. Responsabilidade social: Os criadores de conteúdo têm uma responsabilidade social sim, por isso podemos usa a nossa influência para promover ações positivas, apoiar causas sociais importantes e contribuir para a construção de uma sociedade melhor.
  7. Respeito aos direitos autorais: Os criadores de conteúdo devem procurar sempre dar os créditos e respeitar os direitos autorais de outros criadores, citando as fontes de inspiração ou trabalho usado e evitando a plágio ou violação de direitos autorais. No dia a dia, sabemos que alguns deslizes e erros podem acontecer aqui, devido a inúmeros fatores. É realmente difícil checar tudo. Porém, a omissão dos créditos não pode ser feito de forma deliberada e caso perceba-se o erro, é importante corrigi-lo dando os devidos créditos.
  8. Proteção de dados e privacidade: Os criadores de conteúdo devem tomar cuidado com os dados que colhem e sempre aplicar medidas para proteger a privacidade e os dados pessoais de seus seguidores e evitar o uso indevido ou mal-intencionado de informações pessoais.
  9. Atenção ao público: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Talvez seja impossível e inviável responder a todas as solicitações que recebemos, porém não podemos simplesmente ignorar e precisamos sim dedicar um tempo para perceber o feedback que estamos recebendo. Vale lembrar que ouvir o público não tem nada a ver com nos pautar ou mudar a nossa essência por causa de críticas ou elogios e sim sobre analisar de forma criteriosa o que o nosso público nos passa.
  10. Promessas falsas e meias verdades: Apesar de ser semelhante e já ter sido dito nos itens anteriores, é bom deixar claro: Não podemos fazer da exceção a regra apenas pra vender algo, não podemos direcionar o público para consumir algo ruim e prejudicial visando apenas o lucro, não podemos brincar com os sonhos dos outros.

Em resumo, acredito que os influenciadores digitais, aqueles que se postam como professores, têm uma grande responsabilidade em relação ao conteúdo que produzem e ao impacto que isso tem no público. Precisamos ser autênticos, transparentes, responsáveis, credíveis e respeitosos em relação a seu público e não se render a somente dinheiro, likes e engajamento.

E não é nenhuma vergonha falar que não conhece sobre algo, que não pode opinar ou que simplesmente não sente a vontade pra falar sobre algum tema ou assunto. O criador de conteúdo não precisa saber sobre tudo.

Você precisa ter o mínimo de profissionalismo

Ser influencer pode não ser uma profissão… Mas você precisa ter o mínimo de profissionalismo!

Quando perguntam para o meu sobrinho de 6 anos o que faço, ele diz que “o tio dele é Youtuber”. E sim, eu sou Youtuber. Antigamente não gostava de tal jargão, mas aprendi que muitas vezes as pessoas falam assim com orgulho, com satisfação de ter alguém que conseguiu muitos seguidores. Mas antes de ser Youtuber ou criador de conteúdo eu sou Designer, trabalho com design desde 2009 e sou formado e pós-graduado.

Por outro lado, não podemos negar os novos tempos e é sabido que para algumas pessoas ser influencer é a sua profissão. Não vejo isso com bons olhos, mas é o mundo atual.

Muitos criadores de conteúdo acabam se tornando apenas “influencers”. Esquecem de continuar estudando, trabalhando, de se formarem. Penso que isso seja perigoso tanto para a vida do influencer quanto para quem o segue. Acredito muito naquela frase de São Beda, monge inglês que viveu de 673 a 735, muito utilizada pelo filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella:

“Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina, não perguntar o que se ignora”

São Beda, monge inglês


Além disso, sabemos como a internet funciona e ao menos que você tenha conseguido fazer um ótimo pé de meia, ficar dependente de redes socais ainda mais em tempos de lixamento virtual, onde qualquer erro pode ser fatal para sua vida na internet. Lidar com rede social é bem complicado, por mais que tenha seus benefícios.

Quando o criador de conteúdo resume sua carreira profissional a ser influenciador digital, ele pode cair na tentação de fazer tudo por dinheiro e acabar promovendo cursos e produtos nocivos ou infrutíferos para o seu público.

E aí que vemos promessas fantasiosas que visão apenas a venda como:

“Ganhe 10mil reais no primeiro emprego”;
“Seja Designer Sênior em 30 dias”;
“Ganhe até 5x mais vendendo sites sem entender nada de web”.

Muitas vezes pode até ser legal esse tipo de ação, mas será que ético? Essas promessas podem até serem factíveis, mas será que podemos fazer da exceção a regra?

Foi devido a isso que acabou surgindo um movimento para combater isso, os desinfluenciadores (por mais hilário que isso possa soar).

E para finalizar, não custa ressaltar que: todo mundo erra, é normal. Não estou dissertando sobre isso.

Só que quando você cria um conteúdo com fim profissional, ou seja, aquilo faz parte ou é de forma integral o seu trabalho, o mínimo que se espera é que você estude, se prepare e faça com o maior profissionalismo possível. Não seja soberbo, arrogante e nem egocêntrico.

O surgimento dos os Desinfluenciadores.

Gif gerado de um trecho da série The Boys da Amazon

Os desinfluenciadores são um tanto de “anti-heróis”, como fosse uma espécie de Billy Butcherdo da série da Amazon e quadrinhos The boys: são pessoas que se dedicam a desfazer as ideias e opiniões propagadas por influenciadores digitais. Eles utilizam as redes sociais para expor contra argumentos às posições defendidas pelos influenciadores, desmentir informações incorretas ou enganosas e desafiar o pensamento único.

Ao contrário dos influenciadores, que muitas vezes que em suma buscam promover produtos ou serviços e consolidar seu público com base em sua imagem e estilo de vida, os desinfluenciadores não estão preocupados (teoricamente) com a popularidade. Seu objetivo (na teoria) é promover o debate, estimular a reflexão crítica e ajudar as pessoas a formar suas próprias opiniões, sem se deixar influenciar por narrativas unilaterais ou simplistas.

Existem desinfluenciadores de diferentes áreas, desde política e cultura até meio ambiente e direitos humanos. Apesar de colocarem do lado oposto, muitas vezes, por mais irônico e hipócrita que seja, eles ganham o mesmo poder e popularidade dos próprios influenciadores e acabam usando de artifícios semelhantes para alcançarem o público. (da mesma forma que Billy na série The Boys)

Apesar de existirem péssimo influencers, existem sim bom influenciadores, e que talvez seja a maioria, transmitindo informações e conteúdo de forma positiva, ajudando a conscientizar as pessoas sobre questões relevantes, ajudando em suas formações e incentivando-as a buscar informações mais precisas e confiáveis.

Nem todo influenciador é um Capitão Pátria (da série The Boys), pelo contrário.

Vale lembra que a carapuça só pega pra quem a serve, né? Portanto, uma atitude positiva por parte dos influenciadores é se dispor em ouvir as críticas e argumentos apresentados para evoluir de forma construtiva. É importante lembrar que a diversidade de opiniões e perspectivas sempre é saudável para a formação de um pensamento crítico e maduro, e os influencers, na minha visão, podem (ou devem?) ser agentes importantes nesse processo, ao estimular pensamento crítico e analítico do seu público.

O público não é besta e a pior coisa para um influencer é ter a sua reputação em xeque.

A pior coisa que pode acontecer para um criador de conteúdo é ter sua reputação manchada. A internet pode ser maravilhosa, mas ela não perdoa e o print é eterno. Ela também é muito dura quando pega alguém no pulo e na maioria das vezes pega pesado demais em muitos casos, vide os cancelamentos que vire e mexe são noticiados por aí.

Às vezes me parece que muita gente não tem vida: é amargura e ranzinza que ficam só na espreita para descobrir alguma fraqueza sua ou pegar algum deslize. Parece até que quem cria conteúdo precisa ser um robô, por que errar é inaceitável (quanto hipocrisia, né?) e quem assiste é um juiz supremo dona da razão. Mas isso a psicologia explica, porque o ser humano adora um linchamento, né?

Obviamente que existem casos inaceitáveis, mas em suma, não se trata do que se faz, mas de quem faz. Enfim…Isso é tema para outro momento conversamos, deixar pra lá…

O fato é que existe um lado bom dessa vigilância, pois a galera está atenta e não necessariamente cai em qualquer lorota. Não é apenas uma via de mão única onde você fala e todo mundo aceita calado. Por isso não adianta enganar ninguém, por mais cedo ou mais tarde a casa cai: pode até demorar, mas quando vem, vem forte.

Sofismo, meias verdades, dados baseados em achismos, promessas surreais, fakes news, “sênior em 30 dias”…Tudo isso tem uma conta e ela chega!

Então, se você quer se proteger dessas mentiras, eu vou te passar algumas dicas:

  • Faça a sua própria pesquisa: Não acredite em tudo o que os influenciadores dizem. Pesquise e verifique se as informações que eles estão divulgando são precisas e pense por você mesmo.
  • Verifique as fontes: Busque por diferentes e confiáveis fontes.
  • Analise as motivações do influenciador: Nós recebemos dinheiro ou outros incentivos para promover produtos ou serviços. Portanto, analise suas motivações e verifique se eles estão realmente recomendando algo porque acreditam ou se é apenas pelo dinheiro.
  • Fique atento a exageros e contradições: Veja a linha de raciocínio ao longo do tempo e se existe coerência.
  • Busque opiniões de outras pessoas: Não idolatre ninguém e nem encare uma visão como absoluta.

Mas não pense que isso é contra os influenciadores, pelo contrário.

Apesar do tom crítico desse artigo, não se trata de um texto contra os influenciadores (eu faço parte desse bando) e nem quero desestimular ao novos que estão chegando, pelo contrário: aqui faço um alerta onde convido a todos para uma reflexão e autocrítica. Até porque hoje em dia temos algo muito legal que é descentralização da informação, opiniões diversas e visões diferentes sobre temas importantes e tudo isso passa também pelos influenciadores.

Eu mesmo creio que não teria nem de perto as oportunidades que tive, senão fosse a internet. Não conheceria as pessoas que conheci não teria a liberdade para trabalhar que tenho, e nem ganharia várias coisas que já ganhei, de eventos que já fui convidado, de palestras e aulas que dei… Tive a oportunidade de ser citado em livro, TCCs, conteúdos universitários, matérias de outras áreas… E tudo isso fazendo daqui da minha casa, na periferia de São Paulo, sem ter uma mega estrutura ou mesmo títulos e prêmios de destaque.

Creio que ser um criador de conteúdo mudou a vida de várias pessoas em situações parecidas com as minhas, com ganhos que vão muito além do dinheiro. Por isso que dá mesma forma que recebemos os benesses, precisamos também voltar para o nosso consumidor (sim eles são consumidores, por mais que não paguem para ter acesso) o melhor possível, evitando ao máximo passar desinformações e sempre prezar pela integridade.

A questão não é nem errar ou não, porque todos nós erramos, ainda mais quando publicamos muitos conteúdos, mas é sobre ter responsabilidade com o público, ter profissionalismo e zelo pelo o que fazemos e saber que sim, temos responsabilidades para lidar.

Enfim, é assim que penso…E você o que acha disso? Deixa aí o seu comentário.

Um forte abraço.

Até mais.

David Arty

Olá. Sou David Arty, fundador do blog Chief of Design.
Sou natural de São Paulo, Brasil. Trabalho com design, principalmente com design para web, desde 2009. Procuro transformar ideias loucas e complexas em peças simples, atrativas e funcionais.